segunda-feira, 18 de julho de 2011

Cabeça

Cansa-se a cabeça
vazia, não pensa.
Mas nega a cabeça,
se pensa que pensa.

Sem cabeça, não faz.
Será?

Tem a cabeça
p'ra atrapalhar.
Tanto incomoda...
"Para, cabeça."
Para que, cabeça?

Cérebro murcho.
Cérebro morto.
Morto...
Não tem cabeça.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Amar: o mar

Nado em um imenso volume.
Nada... Ela também nada.
Ainda assim, não me afogo.
Estou aqui porque quero.

Por vezes, estou sozinho.
Não importa. Veja isso:
é lindo...
...tocar nos dedos dela e vê-la.

Depois de algum tempo
vejo ela ao meu lado.
Vejo realmente?
Ou bebi demais?

Existem coisas que simplesmente.
São. Não precisam,
De compromisso ou condição.
Vivo a flutuar.

Nada me dá mais força que isso.
Eu e ela.
Ela e eu.
Eu e ela.

À Paula.

Isso dá um samba

Passo os dias procurando
algo para incomodar.
Sempre por aí pensando
em não me acomodar.
...isso dá um samba.

Reviro e mexo com calma.
Encontro muita coisa amassada.
De repente vem a alma.
Já tá toda bagunçada.
...isso dá um samba.

Tenho responsabilidades.
Já não sou mais criança.
Apesar das novidades,
eu insisto em entrar na dança.
...isso dá um samba.

Encontrei uma mulher
que me deixa quase louco.
Não há um dia sequer
que eu sinta que é pouco.
...isso dá um samba.

Não sei fazer um samba.
Mas sei fazer um poema.

Aqui está, contei histórias...

domingo, 17 de abril de 2011

Covardes!

Que tipo de covardia existe em alguns seres humanos que colocam suas frustrações e fracassos nos outros que nada tem a ver com isso?
Sim, covardia; não há outro nome para isso.
Não é fácil ser valente, encarar seus medos e tentar vencê-los (uma luta quase inútil, porém necessária; rumo à coerência desejável e exigível de todos os homens).
O caminho mais fácil normalmente não é o melhor.
Força é humildade, coerência e respeito pelo próximo.
Posso não ter essas qualidades e mesmo assim jamais ser excluído de qualquer meio social. Ser um vencedor perante a sociedade não exige esses valores, infelizmente.
Eu, exijo tais. Eu quero tais. Lutarei contra minha natureza buscando isso: mais amor,menos violência (sou mesmo antiquado... Anos 60. Love and peace.). Ninguém me diz o que fazer!
É muito difícil, dolorido e sofrido... Porém, vou conseguir. Poderei compreender qualquer um, não reclamarei.
OK, sejamos amigos. Não me agrida. Não tente entender algo me utilizando como plataforma. Busque em você.
Ser covarde não é condenável; é mais fácil e natural. O natural não é condenável.
O segredo está na motivação de agir de forma antinatural; a natureza é muito poderosa. Inclusive para fazer você agir da forma que mais lhe convém, seja em um bar lotado, seja entre as paredes de seu quarto enquanto você está sozinho.

Cinza, Mundo

Nada importa. Não existem problemas pessoais. Tudo é ficção. Ninguém sabe ou controla algo. Tudo é aleatório. Tudo é animal. Estômago e sexo. Felizes são os animais irracionais (?). Não choro mais. Acabaram-me as lágrimas. Beijo minha mulher. Depois minha mãe. Converso e me relaciono aleatoriamente esperando os dias passarem.

Morte

Vejo, ouço e leio pessoas mortas; a existência carnal nada significa e sim o legado.
Todos morrem um dia.
Uns morrem velhos, muito velhos (posso imaginar o idoso, feliz, deitado no caixão, sorrindo, pensando: -Ufa!).
Em compensação outros falecem tão jovens... É inevitável, aquela cena, a mesma que se repete cada vez que uma pessoa com menos de 50 e que você já viu pelo menos uma vez na vida morre...
Angústia... Choque... O nó na garganta... Uma lágrima que insiste em não cair... A propagação da notícia por todos os lados...
Que mórbido! Que estranho prazer é esse?!?!
Suponho que seja mais fácil falar de algo real que ficcionar algo; todas as palavras agradáveis proferidas nada mais são que vendas colocadas nos olhos da alma para tentar ignorar tanto quanto possível o mundo em que vivemos.
Nada mais belo que o canto do cisne, não importa como tenha sido a existência do pássaro. Existir é sofrer.
A despedida triunfal, multidão, velas, igreja, homenagens...

segunda-feira, 24 de maio de 2010

IdIoSsInCrAsIaS

O guitarrista de uma banda de rock (que ninguém sabe o nome, pois estão muito chapados para se preocupar com isso), nos 15 minutos que antecedem sua entrada no palco mistura uísque com a droga do momento, fortíssima como sói ser, sobe no palco de cócoras. Depois de uma hora consegue empunhar seu desafinado instrumento e desfere uma série de acordes sem sentido. -
Um mendigo veste uma camiseta rota de seu time do coração, faz embaixadas com uma bola de meia defronte os carros a cada sinal vermelho e passa seu boné velho, como ele mesmo, a angariar moedas para tomar cachaça no boteco da esquina, para enganar a fome e ter a única experiência social tangível a um morador da selvagem rua. -
Empresário, herdeiro, novo rico, talvez não nessa ordem, 30 anos, toma novas pílulas e vai para uma festa em uma mansão no Morumbi, a noite inteira experimentando todos os drinques disponíveis e inventando outros (o comprimido vermelho e azul o deixa com uma aparência apresentável, apesar da intensa confusão mental), então flerta com aquela loira monumental que procurava justamente um playboy endinheirado, excitado, ébrio. -

- Ele desce diretamente nos braços da multidão delirante, ele é o ídolo, todas as garotas o querem, todos o acham o máximo, ele protagonizou os sonhos daquela multidão...
- Ele fala sobre seu time, é o mesmo de todos no bar, todos o cumprimentam e lhe oferecem um trago, falam a mesma língua a noite toda...
- Eles se arrastam para o banheiro mais próximo, transam loucamente, um sexo suado, louco, ardente, até o gozo e o beijo doce de despedida, ele teve a noite perfeita com a mulher ideal...

... ele sai daquele lugar, triunfante, desprovido do efeito das drogas que consumiu, devagar, e vai embora, sem olhar para ninguém, vencedor, cair no leito, desfrutar a glória! Ele sorri.

Nada é mais poderoso que as drogas, o descaso com a opinião alheia e a autoconfiança; estes, podem fazer muito bem ou muito mal (nestes casos, bem, em muitos outros, mal, vale a pena?), isolada ou separadamente, em maior ou menor grau, e às vezes são amigos da tolerância e da admiração, trazem comunicação e empatia, valores em desuso nos dias de hoje, infelizmente.

Basta alguém ser diferente, possuir algumas idiossincrasias inusuais (todos tem suas manias), para choverem horrendas agressões e críticas destrutivas (raros os que constroem através de críticas).

Quem dera todos pudessem ser como o profeta Seixas que ria de tudo isso.

Quem ri, transcende.

Poucos os que riem livremente.

Felizes os que são e estão por aí, reunidos, celebrando a vida, em vez de sofrê-la.